Através do confronto do político com o simbólico, a Análise de Discurso que ele propõe coloca questões para a Lingüística interrogando-a pela historicidade que esta exclui, assim como ela questiona as Ciências Sociais pela transparência da linguagem sobre a qual elas se constroem. Pêcheux compreende o sentido como sendo regrado pelas questões de espaço e tempo das práticas humanas, descentralizando o conceito de subjetividade e limitando a autonomia do objeto da Lingüística. O discurso é definido como efeito de sentidos entre locutores, um objeto sócio-histórico no qual a Lingüística está pressuposta. Pêcheux critica a evidência do sentido e o sujeito intencional como origem do sentido. Ele considera a linguagem como um sistema sujeito à ambigüidade, definindo a discursividade como a inserção dos efeitos materiais da língua na história, incluindo a análise do imaginário na relação dos sujeitos com a linguagem. Propondo um novo suporte teórico para a ideologia, seu método é baseado na análise das formas materiais.
A materialidade específica da ideologia é o discurso e a materialidade específica deste é a língua. O discurso é, assim, o observatório da relação língua/ideologia. Em termos de discurso, Pêcheux não faz uma distinção estrita entre estrutura e acontecimento, relacionando a linguagem à sua exterioridade. Estabelece a noção de interdiscurso, que ele define como memória discursiva, um conjunto de já-ditos que sustenta todo dizer. De acordo com este conceito, as pessoas estão filiadas a um saber discursivo que não se aprende mas que produz seus efeitos através da ideologia e do inconsciente. O interdiscurso está articulado ao complexo de formações ideológicas: alguma coisa fala antes, em outro lugar, independentemente.
De acordo com Pêcheux, as palavras não têm um sentido ligado à sua literalidade; o sentido é sempre uma palavra por outra, ele existe em relações de metáfora (transferência) que se dão nas formações discursivas, que são seu lugar histórico provisório. A leitura (escuta) proposta por Pêcheux expõe o olhar leitor à opacidade do texto, objetivando a compreensão do que o sujeito diz em relação a outros dizeres. Criticando a análise de conteúdo, o psicologismo e o sociologismo, Pêcheux é um herdeiro não subserviente do Marxismo, da Lingüística e da Psicanálise, em sua Análise de Discurso que explicita as relações entre sujeito, linguagem e história. Com sua posição, Michel Pêcheux cria uma nova teoria com um novo objeto: o discurso. Ele consegue, assim, produzir o que propunha: uma mudança de terreno nos estudos da linguagem que afeta, ao mesmo tempo, o território das ciências humanas e sociais. Pós- saussuriano e pós-estruturalista, ele reintroduz a noção de sujeito e de situação, sem estacionar na análise de conteúdo, e fazendo intervir a noção de acontecimento junto à de estrutura.
Elabora, desta forma, uma teoria não subjetiva de sujeito e sustenta a análise na relação do real da língua e no real da história. Sua contribuição para o campo das ciências da linguagem é justamente a que consegue trabalhar a questão do sentido na contradição que opõe o formalismo ao sociologismo.
Fonte: http://www.labeurb.unicamp.br/portal/pages/home/lerArtigo.lab?id=48&cedu=1
Postado por: Gregório Vaz
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