sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Discurso Publicitário: Uma Análise Crítica

Deve-se, preliminarmente, definir o conceito de publicidade para a adequada compreensão do termo, tendo em vista o tema a ser investigado neste ensaio, que é uma breve análise crítica da ordem do discurso publicitário.

A publicidade é uma mensagem paga veiculada nos meios de comunicação (mídia) com objetivo de se vender um produto ou serviço, sob a forma de uma marca comercial, para um público-alvo (consumidor) utilizando-se recursos lingüísticos e estilísticos de ordenação, persuasão e sedução através de apelos racionais e emocionais.
A mensagem publicitária cria e exibe um mundo perfeito e ideal, sem guerras, fome, deterioração ou subdesenvolvimento. Cabe a ela, por meio do discurso,  tornar  familiar  o produto que está vendendo,  isto é, aumentar sua banalidade, e ao mesmo tempo valorizá-lo com uma certa dose de “diferenciação”, a fim de destacá-lo do lugar comum.
          O discurso publicitário é, portanto, um dos instrumentos de controle social e, para bem realizar essa função, simula igualitarismo, remove da estrutura de superfície os indicadores de autoridade e poder, substituindoos pela linguagem da sedução.
A via psicológica, reconhecida a partir de Freud,  revela que a eficácia publicitária do jogo de palavras resulta do fato de que esse jogo, para  o  receptor  da  publicidade,  é  erótico  no  sentido  psicanalítico  do termo.  Freud  (1969,  p.222)  notava  que  o  ouvinte  obtém com pouco dispêndio o prazer que lhe proporciona a palavra.  Ele recebe, por assim dizer, o dom gratuito.
Além da via psicológica,  o discurso publicitário faz uso da via antropológica, que parte da proclamação da irracionalidade do receptor. O jogo  simbólico  dos  signos  reaviva  arquétipos  coletivos  ocultos  mas fundamentais,  de tal  modo que um verbo aparentemente insignificante induz à compra, escamoteando a barreira da consciência.
              Finalmente, como parte da tríade, deve-se incluir a via sociológica, que parte do fato de que,  não se dirigindo a ninguém em especial,  a publicidade dá a cada um a ilusão de que se dirige a ele individualmente e,  ao  mesmo  tempo,  o  faz  ter  consciência  de  ser  membro  de  uma sociedade. Amplia-se a eficácia cultural do discurso publicitário por meio do  constante  apelo  aos  simbólicos  e  frágeis  laços  tecidos  entre  os habitantes das sociedades industriais. Assim, o discurso publicitário serve 10 à  dupla  e  necessária  ilusão  de  comunhão  íntima  no  interior  de  uma mesma sociedade e da incomparável singularidade do ser humano.
Organizada de forma diferente das demais mensagens, a publicidade impõe, nas linhas e entrelinhas, valores, mitos, ideais e outras elaborações simbólicas, utilizando os recursos próprios da língua que lhe serve de veículo, sejam eles fonéticos, léxico-semânticos ou morfossintáticos.
Considerando seu método discursivo, a estrutura persuasiva do texto publicitário está baseada em princípios estabelecidos por Aristóteles há mais de 2 mil anos na retórica. São eles: o apelo à emoção, o oferecimento da prova e o apelo à credibilidade do comunicador.
Vamos a eles:
O apelo à emoção, na verdade, é um apelo por valores, aquilo que os consumidores valorizam e que estão procurando nos produtos. O oferecimento de provas é uma afirmação das razões ou evidências de por que o produto fará os benefícios que promete; é uma afirmação das características do produto. O apelo à credibilidade do comunicador é um apelo à honestidade e à integridade do anunciante. Por que alguém deveria acreditar no que o anunciante disse nos dois primeiros passos do processo de persuasão? Isto inclui referências à longevidade do anunciante e o uso de testemunhos e endossos de especialistas.
Portanto, o discurso publicitário se baseia em um princípio aristotélico que é fundado sob as retóricas emocional, racional e institucional. É concebido através de um simulacro social, no qual não apenas espelha o real, mas fabrica-o; sua narrativa constrói práticas sociais e culturais com formas lingüísticas cotidianizadas e com um discurso do senso comum (naturalização). É, sem nenhuma dúvida, uma forma de dominação simbólica a serviço da ideologia do consumo.
O discurso está presente na publicidade como retórica argumentativa persuasiva e manipuladora sob as formas textual e lingüística, produzido, distribuído e consumido através de um contexto, sendo constituído por fatos socioculturais, e cuja produção de sentido se faz através de um senso comum compartilhado, ou seja, cognoscível entre as partes.
A mensagem publicitária se constrói através da integração da linguagem verbal e não-verbal, utilizando-se de palavras e imagens com consciência lingüística, que, combinadas, produzem sentido pois, fundamentalmente, são elaboradas através de um senso comum carregado de valores e representações sociais, culturais, estéticas e políticas, que estão em consonância com a capacidade cognitiva interpretativa de um determinado receptor.
A ideologia do seu discurso está pautada na idéia de que a lógica do consumo é socialmente bem vista. Os anúncios publicitários enfatizam, magicamente, o sentido de um poder que se legitima pela ordem de um espetáculo, no qual o receptor tem um papel e um script a seguir, que é o de ser consumidor (identidade) em um contexto de consumo como um enunciado de pertencimento, idolatria, controle e aceitação social.
O sujeito é socialmente aceito porque compra. E o social, por sua vez, produz essa subjetividade por intermédio do consumo. Nesse jogo de regulação, o social também é constituído pelo sujeito, com as suas pulsões individuais, e vice-versa, ou seja, a publicidade discursa para um sujeito que constitui e é constituído pelo social. Tomando-se a psicossociologia como argumento, observa-se que o discurso publicitário manipula o indivíduo e o coletivo através da narrativa da fábula e da fantasia como alegorias de uma retórica publicitarizada.
O discurso publicitário fetichiza as mercadorias (objetos), que são transformadas em marcas de sedução, através de um apelo psicossociológico, visto que a mensagem se dirige a um sujeito psíquico (dotado de pulsões, de afetos, defesas e projeções, identificações e desejos, constituinte do social que o constitui) e social (de uma cultura, de um contexto sócio-histórico, com valores de pertencimento e aceitação, um indivíduo que vive no coletivo e busca se representar).
A publicidade produz e agencia valores, saberes e naturaliza os desejos de consumo, tornando-os necessidades básicas, simbolizando-os através da ideologia de aceitação e pertencimento, compartilhada por todos como um ideal de existência. Para "ser" é preciso ter; consumir o que a publicidade afirma como o que é certo.
A publicidade conota a idéia de um mundo melhor. Utilizando-se do pensamento da Indústria Cultural, através do processo da dialética, o que está dentro da publicidade é bom, mas o que está fora não. Ou seja, domina o imaginário com um discurso que o consumo insere socialmente o sujeito, mas quem não o tem (e não pode) é marginalizado.
Afinal, ser cidadão é portar a identidade de consumidor. Para tal efeito, o discurso publicitário tem um papel estratégico nessa produção de sentido. Isto porque, o discurso publicitário é extremamente politizado como uma forma de controle social.
O discurso publicitário transforma o social; a ideologia e a hegemonia fazem parte da produção simbólica de sentido, na qual se mitologiza os sonhos, os desejos e as frustrações que estão presentes no imaginário coletivo. Uma forma perversa de construção semiótica é trabalhar o discurso, através de elementos já constituídos na percepção do público, utilizando-se fragmentos discursivos anteriores (intertextualidade) para que a mensagem chague mais fácil à mente dos consumidores, de forma natural e, ao mesmo tempo, espetacular.
A publicidade legitima o modelo atual da vida dominante da sociedade que é ter o consumo como linguagem de inserção social.



Fonte: http://www.fredtavares.com.br/discurso_publicitario.htm
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/507-4.pdf?PHPSESSID=2009051513132455

Postado por: Luciana Marques

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