quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pêcheux e a Análise do Discurso

Pêcheux dá uma grande contribuição aos estudos lingüísticos ao desenvolver a idéia de que a linguagem é uma importante forma material da ideologia. Na sua análise do discurso, ele procura demonstrar os embates ideológicos que ocorrem no funcionamento da linguagem e a existência da materialidade lingüística na ideologia.
 
Fazendo referência a Nietzsche, ele diz que “todo fato já é uma interpretação”, demonstrando que não temos a perspectiva de essência de um contato com o objeto ou com o outro sem mediação, seja ela qual for. Assim, a linguagem não pode ser compreendida como um sistema significativo fechado, sem relação com o exterior, devendo ser compreendida a partir do contexto histórico-ideológico dos sujeitos que a produzem e que a interpretam. Pêcheux diz, ainda, que é necessário “suspender a posição do espectador universal como fonte da homogeneidade e interrogar o sujeito paradigmático, no sentido kantiano e também no sentido contemporâneo do termo” (Pêcheux, 1983, p.32). 

Dessa forma, ele não só rejeita a noção kantiana de sujeito consciente que controla os sentidos que produz, como também relativiza a concepção de sujeito inconsciente, que é disperso, descentrado, como é atualmente entendido em Análise do Discurso. Isto aponta para uma importante questão nessa área, pois, considerando que as relações entre inconsciente e ideologia não estão, hoje, bem delineadas, é preciso que se relativize as relações entre a Psicanálise e a AD, pois quando optamos por trazer conceitos de uma área para outra, precisamos ter em mente até que ponto isso não fere o que é a proposta da disciplina.
 
Em sua reflexão sobre o discurso como estrutura ou acontecimento, Pêcheux discute diferentes caminhos para a abordagem desta questão. Um primeiro, seria tomar um enunciado e trabalhar a partir dele. Um outro, consistiria, para o autor, em uma questão filosófica; por exemplo, a da relação entre Max e Aristóteles, a propósito da idéia de uma ciência da estrutura. E um terceiro caminho seria o da tradição francesa de Análise do Discurso, como por exemplo, “levantando, na configuração dos problemas teóricos e de procedimentos que se colocam hoje para essa disciplina, o da relação entre a análise como descrição e a análise como interpretação” (Pêcheux,1983, p.17). O autor opta, então, por trabalhar no entrecruzamento desses três caminhos: o do acontecimento, o da estrutura e o da tensão entre descrição e interpretação em Análise do Discurso.
 
O autor afirma que “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente para derivar para um outro” (Pêcheux,1983, p.53), o que é significativo para a Análise do Discurso, pois o sentido não é compreendido como uma unidade fixa, já que é histórico e, por isso, pode deslizar-se para outro.




Fonte: http://cremedeletras.blogspot.com/2009/11/analise-do-discurso-pecheux.html



Postado por: Ícaro Tácito
 

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